sábado, 11 de agosto de 2012

O Não-Lugar


    É curioso perceber a impessoalidade de espaços como  rodoviárias,aeroportos. Ali não se formam laços duradouros, as pessoas sempre estão chegando ou partindo. Mas um ótimo local para se ter  amigos instantâneos. Você senta para esperar o transporte, olha para o lado e há uma pessoa, basta um sorriso e dali a poucos minutos já se conhece a sua comida preferida, a música que o faz chorar,etc. O mais estranho nisso é que quando partem, cada um vai viajar com um pouco do outro e depois de um tempo esse pouco já não existe mais.
São nesses lugares, ou melhor, nesses não-lugares, que diferentes culturas, experiências, sentimentos, épocas, se encontram. O argentino, o búlgaro, a bailarina, o mecânico, o estudante; os alegres, o tristes, aqueles que estão começando e aqueles que não têm mais coragem de começar. Porém, é um encontro fugaz, instantâneo. Como este curioso e estranho encontro que ocorreu numa rodoviária:
      - Oi, tem alguém sentado aí?
      - Não, pode sentar.
      - Poxa, não conhecia a cidade,muito bonita. O senhor a conhece?
      - Já estive aqui na minha juventude e agora moro aqui.
      - Deve ser muito bom para se morar, cidade pacata, acolhedora, com lindos lugares...
      - Sim, é verdade, muito boa de se não morar também.
      - Como? Não entendi.
      - Você tem quantos anos?
      - 25.
      - É verdade.
      - Eu estava mesmo precisando de umas férias, agora estou voltando para a minha cidade. Voltar ao trabalho... Mas o que eu quero mesmo é arrumar um emprego melhor ou quem sabe estudar fora do país. O senhor já viajou para fora do país?
      - Passei um tempo em Londres a trabalho.
      - Sério? Como é lá?
      - Foi uma boa época. Os ingleses são de uma gentileza exagerada. Conheci muitas caricaturas.
      - É isso o que eu quero, ir para fora do país, conhecer gente, conhecer coisas, mulheres interessantes, quem sabe comprar uma casa, ou talvez não.
      - Falar demais...
      - O senhor falou o que? Não entendi.
      - Pensando alto, coisa de velho.
      - Acho que meu ônibus chegou. Foi um prazer conhecê-lo. Seu ônibus já não chegou também?
      - Já, há alguns anos.
      - O quê?
      Sem entender nada, o jovem sai em direção ao ônibus.”Que senhor estranho”, pensa.
      “Como eu era engraçado”, pensa o senhor, rindo, que agora se levanta em direção a saída.